quinta-feira, 20 de novembro de 2008

can you keep a secret?

Dizem que a vida é assim mesmo. Não se preocupe, durma tranqüilo, mesmo que em lençóis sujos de secreções, com pêlos e ossos. Dizem que é assim mesmo. Por que se preocupar afinal? Lascas de unhas, cabelos, dentes, a dor vem de dentro pra fora, ninguém irá notar se você souber guardar o segredo. As paredes não falam, a cama não falará, os lençóis estão sempre sobre a cama, amarrotados, cinzas de cigarro, o cigarro do depois. Isso fica pra depois. Ninguém irá reparar se você souber guardar o segredo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Tanta coisa ainda,,,


            Seria uma pausa, um prelúdio, um período de hibernação, ou mesmo a morte de uma estrela? Como saber ao certo, se cada pedaço de si estava já incorporado àquela história? Aquela história a dois, aquele caminho de mãos dadas, um com o outro de mãos dadas, a sorte tirada nas cartas. Não dava para saber. Mas era agora. O momento.
            Depois de dormir, horas e horas perdidas, horas e horas de tempo ganho, de sobrevida, depois disso, a decisão. Era hora. Era hora... Já passava da hora. Vida breve. E poderia ser uma pausa: até que os nervos parassem de doer, ou até que os pés se acostumassem novamente ao frio do chão desse mundo novo. E poderia muito bem ser um prelúdio, mas daria mais trabalho, preparar-se etc. Poderia ser uma hibernação: a vida continuaria em hibernação. E poderia finalmente ser a morte de uma estrela. Gigante Vermelha, Supernova, um colapso e pronto. Um buraco negro.

domingo, 16 de novembro de 2008

E o tal do mundo não se acabou,,,


O ano já ia acabando. E ela não poderia prever o que a esperava ao virar a esquina, ninguém poderia, não era possível, estava quase chegando a essa conclusão, dar-se conta de tudo, dos átomos de seu corpo aos confins do universo, da sinapse às voltas do mundo, seu pensamento, não era possível, era preciso entender disso. De uma vez por todas, era preciso entender, mas também era difícil. Uma borboleta que tentaria sair do casulo eternamente.

Era como percorrer a trilha, pé ante pé, tropeços e ventania, e não poder chegar ao final, tudo porque era difícil acreditar que não se podia dar conta de tudo. Que injusto! Por que então?, perguntava por dentro de si, perguntava sabendo não haver resposta, perguntava para quem?, mas querendo uma resposta, milênios de peregrinações, e nada,,,

Mas sabia que mesmo estando prestes a desistir de entender não o faria, não, não desistira, porque era impossível. O que era fatalmente resolvido por um dar de ombros momentâneo e um posterior rodopio em volta de si. O ano já estava acabando, cinco, quatro, três, dois... O que aconteceria depois? Seria possível comunicar-se de maneira diferente? Estaria ela presa já no manicômio? Seria o manicômio aqui? Mas o ano já estava acabando, e nada de imagens poéticas e de desejos de felicidades, não, dessa vez nada disso, ela queria algo que não fosse suficiente, algo que a explodisse, já era velha, quantas décadas? Três e meia? Por aí já era quase impossível pensar uau, essa sensação eu nunca havia tido antes! Era impossível, era impossível. Nem mesmo a morte, aquela resposta tão fácil, tão sonora, palavra cheia de vida, cheia de cheiro, nem mesmo a morte seria suficiente. Já havia morrido tantas vezes que perdera a conta, os dedos não eram mais suficientes, o que se alastrava era mais profundo, inodoro, incolor, sem gosto... O que era? Pode me dizer?

Não seria possível segurar nem soltar, abdicar nem reter, não era mais possível um passo que fosse de pensamento, que esforço, quanto esforço! E mais esforço depois, porque não era possível sem esforço.

Uma veia poderia se arrebentar e dela sair muito e muito sangue; o cérebro poderia se abrir e nem mesmo os impulsos elétricos seriam vistos; suas pernas poderiam parar, sua boca poderia secar; sua alma poderia abandonar o corpo; se Deus existisse poderia aparecer na TV; nada seria possível, porque existe um limite, o pensamento não daria um passo adiante de qualquer forma, de forma alguma, não seria possível, então por quê?
Milênios e milênios, roda viva, rodamoinho, um demônio no meio.

O ano já ia acabando. E ela não poderia prever o que a esperava ao virar a esquina. Mas aquele vazio cheio de perguntas permaneceria mesmo assim. Mesmo ao virar a esquina. Mesmo com a morte, sim senhor.

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